Para fãs no Maracanã, Rolling Stones estão melhores que há dez anos

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Público que foi também ao show de 2006 concorda que tempo faz bem à banda

Numa das primeiras vezes em que se dirigiu ao público no Maracanã, na noite de sábado, Mick Jagger disse em caprichado português:

— Há exatamente dez anos tocávamos em Copacabana. Que bom ver vocês de novo!
A comparação com a histórica apresentação na praia, que reuniu 1,2 milhão de pessoas, era inevitável. Quando os Rolling Stones trocaram de cartão postal e subiram no palco montado no gramado do estádio, grande parte das 66 mil pessoas que lotaram a pista e arquibancada ainda tinha a apresentação de uma década atrás na memória — antes dela, a banda já havia tocado no próprio Maracanã em 1995 e na Apoteose em 1998.

Dez anos podem ser poderosos. De 1964, quando estrearam em álbum, até 1974, os Stones gravaram 12 discos de estúdio (contando as versões exclusivas para os EUA) e sedimentaram o seu lugar no Olimpo do rock. De 2006 a 2016, no entanto, quase nada mudou na obra da banda.

“Doom and gloom”, de 2012, uma rara novidade lançada desde “A bigger bang” (2005), foi incluída no repertório do último sábado. Muito por conta disso, o show foi uma grande revisão dos maiores hits da banda. O repertório de 19 canções cobriu 12 álbuns, dois singles e uma cover: “Like a rolling stone”, de Bob Dylan, eleita em votação no site da banda.

Uma década depois, os Stones mantiveram a espinha dorsal do setlist — “Jumpin’ Jack flash”, “It’s only rock ‘n’ roll (But I like it)”, “Sympathy for the devil” e “Start me up”. Ao todo, onze faixas se repetiram nas duas apresentações. Mas as semelhanças, garantiram os fãs, param por aí. Marcelo Gross, guitarrista do Cachorro Grande (que vai abrir o show em Porto Alegre, no dia 2), viu a turnê de 2006 em Buenos Aires. E ao fim da apresentação de sábado, no Maracanã, com expressão de extasiado na plateia, ele afirmou que os Stones septuagenários são ainda melhores que os sexagenários.

— Eles estão cada vez melhores, cada vez com mais manha de tocar, mais certeiros, mais concisos. E o repertório foi ótimo. É claro que eles não podem escapar de tocar os maiores sucessos, mas mostraram músicas como “Paint it, black”, que foi fantástico, e “Doom and gloom”, que tem um riff matador. E adorei a participação no coral (da PUC-Rio) em “You can’t always get what you want”. O trabalho de guitarras de Ron Wood e Keith Richards é uma engrenagem muito azeitada. Foi um show de guitarra, e de guitarra alta. Que delícia!

Marcelo Lobato, integrante do Rappa, engrossou o coro dos que acham que o tempo faz bem à banda.

— Para músicos como eu, é uma aula vê-los tocar. Eles dominam essa coisa do espetáculo cada vez mais.

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De 2006 a 2016, enquanto os Stones se tornavam “mais certeiros” — o grupo já surpreendeu o mundo a ultrapassar a barreira dos 50, 60 e 70 mantendo (e aperfeiçoando) o vigor rock da juventude, algo impensável até para eles décadas atrás —, o mundo seguiu rolando. Os cabelos de Keith Richards — que enfim embranqueceram completamente — são testemunhas disso. Lucas Jagger, filho do vocalista com Luciana Gimenez, cresceu o suficiente para indicar uma banda para abrir o show do pai (o Ultraje a Rigor). E naquela época, não existia o atual fenômeno MC Bin Laden, citado num simpático “Tá favorável” que Jagger lançou à plateia.

Antes do show, a designer Daniela Duarte, de 34 anos, já previa diferenças nas duas apresentações. Se na primeira quase não conseguiu ver o palco (“Foi mais o momento histórico”, disse), na noite de sábado ela saiu sem ressalvas:

— Foi o melhor da minha vida. Na praia, era outro clima.

O funcionário público Eduardo Araújo, de 28 anos, viu a apresentação de outra parte da pista premium, mas teve as mesmas impressões de Daniela. Ele conta que, em Copacabana, foi a primeira vez que ele viu um show ao vivo. Dez anos depois, considerou a festa no Maracanã mais impactante:

— Saio daqui com a certeza de que os Stones são a banda de rock mais poderosa da história. O que aconteceu no palco do Maracanã foi inexplicável.

Depois de dançar animadamente o show inteiro, a médica Denise Muniz, de 64 anos, escolheu “(I can’t get no) Satisfaction” como o ponto alto do show. E, referindo-se à sua proximidade da geração dos Stones, explicou o porquê:

— Ah, relembra os velhos tempos — disse, com os pés fincados no chão molhado do Maracanã, tocando na ligação de passado (2006, 1966 ou qualquer data…) e presente que atravessou a noite.

FAVORÁVEL

Boa a combinação em vermelho e preto estilo “sympathy for Exu” de Jagger, mas o destaque foi a jaqueta de coqueiros de Richards.

A participação do Coral da PUC-Rio emocionou.

A entrada foi ágil e sem grandes filas.

DESFAVORÁVEL

Houve atraso de uma hora para abertura dos portões.

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Danificado pela chuva, o telão direito não funcionou bem.

Faltaram bebida gelada e comida nos bares.

A citação a “Garota de Ipanema” com um solo de saxofone em “Miss you” foi apelativa.

Fonte: oglobo.globo.com