A associação das indústrias de refrigerantes anunciou no mês passado que vai restringir a propaganda para crianças. Pela proposta, a suspensão será aplicada sempre que 35% do público de um programa tiver idade inferior a 12 anos.
A associação reúne empresas que respondem por 85% da produção de refrigerantes, sucos, chás, isotônicos e águas no país.
A notícia foi bem recebida por organizações como o Instituto Alana, que divulga e debate ideias sobre questões relacionadas à publicidade de produtos e serviços dirigida às crianças.
“Foi uma decisão muito importante. Ela mostra como nosso mercado está amadurecendo e percebendo que pode ter uma atuação positiva na mudança que buscamos”, declara Isabela Henriques, diretora da área de Advocacy do instituto e coordenadora do programa Criança e Consumo.
Relembre alguns comerciais:
GUARANÁ ANTARCTICA
SUKITA
Q-SUCO
Reflexos na saúde
Isabela Henriques cita a obesidade infantil, que atinge índices alarmantes no mundo, como uma das questões que serão impactadas positivamente com as novas regras. “As crianças, ainda em desenvolvimento psíquico e emocional, não têm como se defender das mensagens publicitárias que recebem”, diz.
Mas, segundo ela, ainda é preciso ver se haverá mudança mesmo. “Temos de continuar vigilantes e acompanhar quais serão os próximos passos. Para ser válida e eficaz, a medida precisa ser colocada em prática de verdade”, declara.
Mudança na prática
A associação de refrigerantes aprovou um documento que prevê controle do que é veiculado nos principais meios de comunicação, além da publicação de relatórios abertos ao público para avaliar a efetividade das medidas.
A proposta é que haja monitoramento em conjunto com a sociedade civil e o governo, possivelmente com a contratação de uma consultoria externa, mas a instituição não divulgou nenhum detalhamento de como isso deve funcionar.
Professor avalia proposta
Marcelo Barbosa, professor de comportamento do consumidor e gestão de marcas na pós-graduação do Senac, tem acompanhado o assunto de perto e ainda não está convencido de que o monitoramento seja a solução.
“Do ponto de vista técnico, é totalmente viável controlar a veiculação de publicidade de acordo com faixa etária, graças a ferramentas como os dados do Ibope, o Mídia Dados e as informações disponibilizadas pelos veículos de comunicação”, diz.
Segundo ele, o que vai precisar mudar é o direcionamento da estratégia de negócios das empresas, que até hoje contou com o público infantil.
“Os departamentos de marketing deverão redefinir seus objetivos e reposicionar suas marcas. Novos parâmetros vão precisar ser definidos e todas as etapas do processo, envolvidas. Os pontos de venda também terão que fazer parte da mudança.”
O professor defende, ainda, a criação de uma legislação para regulamentar a questão. “Dessa forma, o Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária (Conar) e outras instituições também poderão entrar em ação”, diz.